14/11/2007

Global Innovation Exchange - Resumo II

Uma das sessões pré-gravadas oferecidas como parte do seminário virtual Global Innovation Exchange foi a apresentação de Oscar Motomura, presidente fundador do grupo Amana-Key, uma empresa brasileira de consultoria em inovação e excelência em gestão.

Na apresentação, ele destacou oito pontos de reflexão para avaliar o processo de planejamento da sua organização. Mais especificamente, seu planejamento tende a gerar planos previsíveis ou estratégias surpreendentes? Ou alguma coisa entre um e outro? Segue um breve sumário dos oito paradoxos de planejamento, que você pode usar para avaliar criticamente a sua organização e seus processos.

Enquanto lê, lembre-se que cada par de atributos representa um continuum. É possível seguir um dos dois extremos ou um caminho intermediário entre eles. No entanto, Motomura avisa que, em cada paradoxo, tentar acomodar ambos os extremos normalmente não dá certo. O que acontece na maioria das organizações é que eles experimentam um dos extremos por um período de tempo, mas usualmente o entusiasmo inicial passa e um tipo de “gravidade cultural” acaba se impondo, fazendo o modelo dominante (não-inovador) de planejamento retornar.
Planos previsíveis ou estratégias surpreendentes?

Administração vs. Imaginação: a maioria das companhias, quando planeja, o faz de forma muito administrativa, mecânica, seguindo um processo bem definido. Esse modelo comum de planejamento é desenhado para habilitar tomadas de decisão lógicas e racionais. Mas ele deixa pouco ou nenhum espaço para a imaginação. Em uma abordagem imaginativa do planejamento, o foco está na reflexão estratégica, na criatividade e nas escolhas intuitivas. Esses planos tendem a ser mais empreendedores por natureza.

Mecânico vs. Biológico: o planejamento mecânico é muito direcionado pelo processo. Esse tipo de planejamento pensa que “se o processo é bom, então o plano deve ser bom”. É uma abordagem previsível, segura, mas que tende a ignorar possibilidades inovadoras. Por outro lado, uma abordagem biológica é caracterizada pelo “caos criativo”, que tende a levar para soluções mais radicais e novos insights. Se a sua companhia está seguindo esse modelo, ela tem uma cultura onde as pessoas estão livres para pensar de forma diferente?

Aprovação vs. Provocação: os planos são projetados para ganhar a aprovação dos executivos superiores da companhia ou para provocá-los e fazê-los pensar de forma diferente? No planejamento baseado em aprovação, idéias radicais ou de alto risco são usualmente filtradas durante o processo de planejamento, porque os líderes não gostam de anomalias. Na abordagem provocativa, a ênfase está em surpreender e encantar clientes, consumidores, mercado e a alta gerência também. Motomura destaca que alguns líderes podem até dizer em seus discursos que estão comprometidos com a inovação, mas na verdade eles odeiam surpresas.

Prioridade vs. Variação: a maioria das organizações está fortemente focada em planejamentos baseados em prioridades, porque essa é uma das formas mais eficientes de escolher diante de múltiplas alternativas. Aqueles itens que estão no topo da lista entram no plano, os que não estão tendem a se tornar oportunidades não realizadas. Motomura explica que planos baseados em prioridades tendem a deixar para trás pequenas mas interessantes oportunidades, que parecem insignificantes hoje, mas que podem tornar-se extremamente importantes no futuro. A abordagem oposta é tentar uma visada de 360o sobre o ambiente atual e futuro. Você deve prestar atenção a todas as oportunidades à sua volta que podem afetar os resultados da organização. Nesse modelo de planejamento, o foco não é no “não”, mas no “por que não?”. Ele acrescenta que muitas organizações que enfrentaram desastres descobriram que o “elemento destrutivo” estava oculto sob a superfície por muito tempo, mas ninguém prestou atenção nele. Interessante, não?

Conforto vs. Mudanças: a maioria das companhias tende a operar dentro da sua zona de conforto. Esse modelo de planejamento é caracterizado pela já gasta expressão “não se mexe em time que está ganhando”. Ele tende a ser voltado para si mesmo, melhorando processos internos e monitorando insumos e marcas existentes. Já o planejamento baseado em mudança, por sua vez, seguem a filosofia do “quanto maior o desafio, maior a recompensa”. Líderes que seguem esse modelo descobrem que colocar os desafios na mesa gera discussões que provocam, por sua vez, decisões ousadas e corajosas sobre o futuro da organização.
Fragmentos vs. Todo: uma abordagem fragmentada tende a focar no “nicho de mercado” existente – aquela caixa imaginária na qual a companhia decidiu fazer negócios. Em outras palavras, o foco é no negócio já existente. Pouca atenção é dada ao que está fora da caixa: àquilo que é alternativo ou emergente, ao mercado como um todo ou à sociedade em geral. A abordagem oposta considera o “todo”, os espaços em branco em que as oportunidades tendem a ficar. Líderes que seguem essa filosofia percebem que a maioria das inovações vem de fora do universo conhecido, não de dentro de mercados pré-existentes.

Crescimento vs. Evolução: a maioria das empresas de capital aberto é obcecada com crescimento, porque seus acionistas assim o exigem. Esse tipo de planejamento tende a focar na escassez, tentando extrair cada gota de eficiência de cada aspecto do negócio. Uma abordagem evolutiva, por seu turno, está mais focada em fazer diferença, em contribuir, em construir plataformas para o crescimento futuro. Motomura destaca que é muito difícil para as empresas fazerem isso, porque focar em novos negócios ou em inovações radicais geralmente significa ganhos menores ou menos espaço no mercado por um período de tempo – coisas que a maioria dos líderes evita.

Interesse vs. Conscientização:
no modelo baseado em interesse, que predomina hoje, escolhas estratégicas são feitas baseadas no que é melhor para os stakeholders da empresa. Ao tentar se acomodar aos interesses de todos, esse modelo tende a se comprometer demais com a manutenção do status quo. Algumas vezes, companhias que seguem esse modelo ficam tão envolvidas nesse processo de acomodação que acabam perdendo inclusive o propósito da empresa, alerta Motomura. Em contraste, uma companhia focada na conscientização tende a ter um senso maior dos seus propósitos e razões para existir – que com freqüência envolvem contribuições para a sociedade em geral. Esse modelo é caracterizado por um diálogo robusto e pela procura pelo bem comum.
Motomura fechou sua apresentação exortando os ouvintes a observar a realidade dentro das suas próprias organizações. Não escutar o que os executivos seniores estão dizendo, mas observar o que eles estão de fato fazendo e em que estão focando. Armado com esse conjunto de conceitos opostos, você poderá fazer uma avaliação mais crítica a respeito da cultura da sua empresa e de seus processos de planejamento. Essa foi uma ótima apresentação, provocadora e inteligente.

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